
Não mate minhas feras
Pois de mim terás a guerra
Um dia da caça outro do caçador
Sou a lei do retorno
E venho provocar-te a dor
Teu castigo é perecer no deserto sem arrimo
Teu sangue lavará a tristeza destas famílias que muito antes de ti
Reinavam por aqui.
Eu amo a minha senhora e por ela faço e desfaço
Deusa das grandes alturas e profundidades
O amor que pode corromper é o meu por tua pele de onça
Tão felinamente tu me olhas com estes olhos desenhados de negro
Este teu balançar a passos lentos
Desperta admiração
Me inspiro no teu agir de coragem.
Grande caçadora!
Nesta tua calma em apanhar a presa.
Fascina-me a tua perspicácia!
Nestes tons de amarelo quase dourado ou no negrume dos teus pelos,
Movida pelas ternas sensações atrevo-me a tocar-te;
Tuas garras preparadas acolhem-me junto ao peito
Por ti morro nestas matas
Para defender-te não hesito
Pego minha espada e enfrento o inimigo
Vivo junto ao teu clã para ser um pouco como tu
Não deixo pegadas sorrateiras
Aprendi contigo a ser animal silencioso e invisível
Muitos dirão ser loucura o abandono de uma vida tranquila
Por aventuras perigosas e que muitas vezes ferem de morte
Meu poder é feito para te proteger
Entre o verde caboclo do mato e os charcos
Tu te revelas a mim
Trazendo minha ‘buena suerte’
Imaginei que te protegia
Mas tu, minha nobre guerreira,
Tu és minha protetora e minha guia.
Teu rugido espanta minhas trevas
Todo mal passará!
Pois, junto a mim vem guerrear
Já não sinto medos desvelados
Fui tomada de uma coragem absurda e desmedida
As vezes sou imprudente nestas minhas veredas intrigantes
Mas, carrego a certeza que por mim tu morrerás se preciso for
Assim, como entrego-te a minha vida para que continues livre
Neste destino selvagem sejamos naturais e permanentes
As nossas Almas são únicas e por si só são divinas
Meus sentimentos vivem à deriva por estes rios
Somente em tua presença, vivendo em liberdade,
Nesta simplicidade de ser, sou honrada pela paz de um raio multicolorido
Somos duas feras errantes num submundo de abutres
Eu sou fruto da revolta e da tempestade
Amante de um perder-se por entre folhas e flores
Nas bebidas fortes ou nas águas dos vales
Eu purifico minhas raízes e continuo caminhando ao teu lado
Minha brava irmã, a energia não se finda
Partimos para o alto e avante
Nas furtivas neblinas
Vamos para além das violências e crueldades.
Vou curar-te as feridas, minha querida!
A tua essência esparrama pelos meus pelos e poros
Até chegar no bulbo do meu espírito
Eternamente um ser silvestre
Nômade de solos e árvores
De ribeirões,selvas e sertões
Aborígine destas plantas tão sutis e frondosas
Que dão cor e vitalidade a nossa eterna jornada.
(Gregório Dagon)
**Gregório Dagon é um heterônimo de Alma Mattos.
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