Eu sou a morte na vida
Meus precipícios ninguém pode cruzar
Mergulho a fundo
No repúdio dos homens e dos santos
Não vejo magia nas trivialidades
Eu sou apaixonada pelo sadismo
Meu pranto é um encanto vivo
Faz tremer e temer
Um gemido no silêncio tão irônico
Já não discuto ou discordo
Observo por estas duas janelas negras
Por estes meus olhos de onça
Na profundeza dos encargos eu descarrego meus excessos
Corro livre ao vento como uma virgem moça
Emaranhando-me nas crinas de cavalos selvagens e inocentes
No eco vazio dos esteios
Encontro o meu Eu perdido e sem freio
O coração é uma folha seca a esfarelar
Vou refregando meus males no fremido certinho do meu balbuciar
Corre Alma negra perdida!
Encontre nos pomares escondidos o teu fruto proibido
Antes que venham te assombrar
Ludibria os imperadores
Tua espada é de espanto
Teus fantasmas já não assustam
E em escravos hei de transformá-los!
Sou a ceifa do ceifador
O teu fim
Sem uma gota te amor.
(Alma Mattos)